sexta-feira, 3 de abril de 2009

Cerca de 200 mil brasileiros desaparecem

Famílias enfrentam dificuldades para se reestruturarem

Não existem palavras, línguas, gestos ou mesmo pensamentos que possam expressar a dor da perda. Sentimento que há dois anos, atormentam a vida da dona de casa, Márcia Cristina da Costa, 38 anos, que chora todos os dias com o sumiço de sua filha, Clara, de 12 anos, seqüestrada na porta da escola aos 10.
“Minha filha é tudo na minha vida, nunca imaginei que uma coisa destas iria acontecer em minha família, agente vê sempre este tipo de caso na televisão ou em novelas, nunca imaginamos que um dia aquilo pode acontecer conosco. Minha vida e de toda minha família parou no tempo, gastamos o que tínhamos e o que não podíamos, à procura de nossa linda Clarinha, tive que sair do trabalho por conseqüência de uma forte depressão, não conseguia me concentrar em outra coisa senão no paradeiro de minha filha” Lembra Márcia Cristina.

Já faz dois anos que não sei nada sobre minha filha, porém, nunca perdi a esperança de um dia reencontrá-la, algumas pessoas me aconselharam a tentar esquecer e se conformar com a perda, mais eu nunca irei desistir, sou movida pelo amor que sinto por ela e pela força que Deus me dá para continuar”. diz emocionada a mãe da menina.

Na realidade, o drama enfrentado por ela não é um caso isolado no Brasil. Embora não existam dados oficiais que determinem a quantidade de pessoas desaparecidas no Brasil, a ONG Movimento Nacional de Direitos Humanos, com base em uma extensa pesquisa, calculou que cerca de 200 mil pessoas desaparecem, por ano, no País.

Os desaparecimentos acontecem em grandes proporções, principalmente, nos países menos desenvolvidos, que acabam sofrendo com a precariedade de meios para a investigação, busca e identificação dos casos. Só no Brasil, estima-se que entre 10% e 20% dos casos permaneçam sem solução por um longo período ou jamais tiveram resolução. Um dos casos mais conhecidos é o do menino Carlos Ramires, o Carlinhos, que sumiu em 1973, no Rio de janeiro, quase 36 anos depois, o caso permanece sem solução.

E agora?

Então, se faz necessário que uma pergunta seja respondida: De que forma uma família, deve reagir se tiver um parente desaparecido, e como suportar a dor e dar continuidade à vida?

De acordo com o psicólogo, Claudio Guimarães, cada família reage de forma variada, umas abandonam toda a rotina do trabalho e em decorrência disto, acabam sendo demitidos, fazendo com que a situação se agrave ainda mais. Outras preferem isolar-se e acabam perdendo a vontade de viver.

O psicólogo ressalta, ainda, a importância da formação de redes de solidariedade entre famílias que passam pelo mesmo drama. “Quando as famílias passam a trocar experiências, elas acabam descobrindo que existem outras famílias com o mesmo problema e que não são os únicos que têm parentes desaparecidos, desta forma, conseguem ajudar-se mutuamente a se reerguerem e continuar tocando a vida".

A descrição das famílias feitas por Claudio Guimarães, descreve exatamente o que acontece com inúmeras pessoas no país, outro fator que deve ser lembrado é que nem sempre um desaparecimento se dá por conta de um seqüestro ou algo desta natureza, existem outros fatores como, maus tratos e violência sexual dentro dos lares, fator que determina que menores fujam de casa e acabam morando em abrigos ou se perdendo dos pais.

De acordo com dados do Instituto Econômico de Pesquisas Aplicadas (IPEA), cerca de 80 mil menores vivem em abrigos no País. Embora nem todas tenham perdido o vínculo com seus familiares, essa é uma situação comum nessas instituições. Por conta disso, a Fundação para a infância e adolescência (FIA), além do programa “SOS Criança Desaparecida”, também mantém o “Procuro Minha Família”, cuja função é localizar os parentes dos menores abrigados e de portadores de necessidades especiais, que também se encontram nessas instituições e reintegrá-los ao convívio familiar.

Prevenção

Para evitar que as crianças se percam, o “SOS Criança Desaparecida” orienta os pais a manter uma identificação junto aos filhos com nome, telefone e endereço (pode ser a carteira da escola ou uma pulseira de identificação, se a criança for pequena). Também é importante orientar os filhos a não aceitarem balas nem dinheiro de estranhos, e também não fornecerem endereço e telefone para pessoas desconhecidas (exceto se a criança estiver perdida). Se forem a lugares de grande circulação, marcar, em caso de perda, um ponto de encontro.

Se o menor desaparecer no Rio de Janeiro, a família deve entrar em contato com o SOS Criança Desaparecida” pelos telefones (21) 2286-8337. Nos demais estados, porém, há serviços de divulgação e localização de crianças desaparecidas, que formam a Redesap, cujo telefone é (61) 3429-9851
No site www.desaparecidos.mj.gov.br o internauta pode procurar orientações sobre como agir.
Por: Toni Rodrigues

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